Horas depois de o noticiário trazer a informação de que o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, havia denunciado ter pago R$ 6 milhões a Renan Calheiros, enquanto circulava nas rodas de conversas do jantar de confraternização natalina na residência oficial do Senado, o presidente do Congresso estava engasgado era com Michel Temer, que o havia chamado de “coronel” em nota divulgada mais cedo. Ele começou a remoer sua irritação durante a sessão do Senado, quando manifestou a disposição de dar o troco na mesma moeda e divulgar uma carta com duas provocações: de presidente do PMDB e vice-presidente da República, tinha se transformado em carteiro e em mordomo de filme de terror, alusão ao apelido dado a Michel pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães.
— Ele me chamou de coronel, não posso deixar barato. Vou divulgar uma nota dizendo que ele é mesmo um verdadeiro mordomo de filme de terror e abandonou as suas nobres funções para se transformar em carteiro — reclamava Renan, em uma roda em que estavam os senadores José Agripino (DEM-RN, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) , Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Mais cedo, quando anunciou que iria responder a Temer, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) desaconselhou e pediu que esfriasse a cabeça.
— Não faça isso! Você vai se rebaixar ! — aconselhou o petista.
Mas à noite, durante o jantar continuava revoltado e, por onde passava, mencionava a ideia de fazer a provocação, deixando a impressão, entre os senadores, que Renan queria mesmo que vazasse os xingamentos que pretendia colocar em carta a Michel.
— Você escreve, lê, dorme e amanhã, se acordar e achar que está muito bom, você manda a carta. Se depois de uma noite, com a cabeça fria, achar que não é conveniente, você rasga e bota no lixo —aconselhou um dos senadores, argumentando que os termos eram muito duros.
O senado compareceu em peso ao jantar natalino, com exceção dos senadores Blairo Maggi (PR-MT) , que tinha uma confraternização com assessores do gabinete; e José Serra (PSDB-SP), que no jantar anterior, na casa do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), protagonizou uma confusão com a ministra da Agricultura Kátia Abreu por uma brincadeira mal recebida. Kátia, por sua vez, foi ao jantar de Renan, desta vez acompanhada do marido. O assunto não deixou de motivar piadinhas entre os presentes.
— O jantar de hoje foi sem emoção. A ministra Kátia não jogou vinho em nenhum senador — brincou um dos presentes ao jantar.
Além de Kátia, outros dois ministros do PMDB estiveram presentes: Marcelo Castro (PI), da Saúde, e Celso Pansera (RJ), da Ciência e Tecnologia. Chamado de “pau mandado” de Eduardo Cunha pelo doleiro Alberto Youssef, Pansera, segundo relato dos presentes, circulou entre os senadores se apresentando como o ministro da Ciência e Tecnologia.
— Sou de um tempo em que ministro de estado era celebridade. Eu não o conhecia, confundi com o marido da ministra Kátia Abreu — disse um senador da oposição.
PENA DE TUCANO É TEMA DE RODA
Vários assuntos do dia marcaram as conversas dos senadores. Os senadores tucanos, por exemplo, comentaram que a pena de 20 anos aplicada ao ex-governador Eduardo Azeredo, réu no caso do chamado mensalão tucano, era desproporcional às penas aplicadas aos mensaleiros, especialmente José Dirceu, considerado o chefe da quadrilha, que fora condenado a menos de 7 anos.
— Confiamos na sua inocência e acreditamos que, no recurso, ele provará sua inocência, mas a lei é para todos. Diferente dos outros partidos, não há, do PSDB, uma ação organizada para fazer sua defesa. Lamentamos muito, porque todos nós gostamos do Azeredo e acreditamos na sua probidade. O que não vamos fazer, diferente do PT, é defendê-lo atacando e criminalizando a Justiça — disse o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).
Também se discutiu muito o pedido de suspensão do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e as derrotas sofridas pela presidente Dilma Rousseff no Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ação para barrar decisões da Câmara no processo do impeachment.
Renan serviu aos convidados paella e risoto com frutos do mar. Na saída, todos os senadores foram presenteados com uma caixinha com um cupcake decorado com motivos natalinos, e um cartãozinho com desejos de um bom ano da família Calheiros.
O Globo