Depois de postergar a decisão sobre o impeachment em busca de obter apoio para escapar de um processo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chega ao dia em que prometeu anunciar uma decisão sobre os pedidos com mais gente querendo sua saída do que a da própria presidente Dilma Rousseff (PT). De acordo com pesquisa realizada na última semana e divulgada neste domingo pelo Datafolha, 81% dos entrevistados defendem a cassação do mandato do parlamentar, que tem em suas mãos o destino da ação de impedimento da chefe do Executivo brasileiro. Por outro lado, os que apoiam a abertura de processo que pode levar à queda da presidente são 65%.
Não está certo que Cunha cumprirá o prometido no início do mês e reiterado na última semana. Embora ele tenha sugerido que pode anunciar nesta segunda o destino de sete pedidos de impedimento que ainda restam sobre sua mesa, um adiamento não é descartado. Mesmo com pareceres sobre os pedidos já prontos, o peemedebista pode preferir esperar a reunião do Conselho de Ética, marcada para esta terça, para ver como os três petistas do colegiado se posicionarão na votação sobre a admissibilidade de seu processo de cassação.
Fato é que, enquanto esperava o melhor momento para decidir e negociava com governo e oposição, Cunha perdeu apoio popular para sua própria empreitada. Enquanto 81% dos entrevistados são favoráveis à perda de mandato de Cunha, apenas 7% dos brasileiros são contrários à cassação. Outros 4% se dizem indiferentes ao tema.
Por outro lado, o índice dos que defendem um impeachment da presidente Dilma Rousseff oscilou para baixo, mas dentro da margem de erro, se for levado em consideração um levantamento anterior do Datafolha. No início de agosto, eram 66% os que queriam o impeachment da petista e 28% os que não apoiavam a ideia. Agora, são 65% os que defendem o impeachment e 30% os que são contrários. Nos dois casos o percentual dos que não se manifestaram foi de 5%.
Apostas. Mesmo querendo que a presidente caia, muitos duvidam que isso acontecerá. Quando a pergunta é se o entrevistado acha que Dilma Rousseff será afastada, 56% das respostas são negativas e só 36% dos brasileiros acreditam que isso vá ser efetivado. O índice dos que não souberam responder à essa questão foi de 7%. Os números mostram que caiu, no limite da margem de erro, a crença no impeachment, já que, em agosto, eram 38% os que achavam que Dilma seria afastada e 53% os que não achavam. Naquela ocasião, 9% não souberam responder.
O Datafolha perguntou se a presidente deveria renunciar. Aproximadamente dois terços dos brasileiros (65%) acham que sim, enquanto pouco mais de um terço dos que foram questionados (35%) acha que não.
Caso o presidente da Câmara acolha o pedido, ele será analisado pelos deputados. Dois terços da Casa (pelo menos 342 deputados) precisam aprová-lo para que o processo continue. Se isso acontecer, Dilma Rousseff é afastada provisoriamente e o Senado vota se derruba ou não a presidente.
A pesquisa
Dados. O levantamento do Datafolha foi realizado nos dias 25 e 26 de novembro, com 3.541 entrevistados em 185 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou par amenos.
Pessimismo Inflação. Para 77% dos entrevistados pelo Datafolha, a inflação irá aumentar no próximo período, taxa altíssima na comparação com os anos anteriores e praticamente inalterada desde março. Na opinião de 67%, o poder de compra irá diminuir, um recorde (63% pensavam assim em junho). Desemprego. Além disso, o emprego, tema forte no discurso de Dilma, também é visto com inédito pessimismo pelos eleitores. Para 76%, o nível de desemprego irá aumentar ante 73% que acreditavam nisso na última pesquisa. Subindo. A taxa vem crescendo desde outubro de 2014, véspera do segundo turno das eleições. Era 26% naquele mês e já havia disparado para 62% no início do segundo mandato de Dilma.
Congresso tem pior avaliação desde 1993 BRASÍLIA. A grande rejeição ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), coincide com um processo de rápida deterioração da já historicamente debilitada imagem do Congresso Nacional. A taxa dos que avaliam o desempenho de deputados e senadores como ruim ou péssima vinha caindo desde o início do ano, de 50% para 42%, na pesquisa de junho. Mas agora deu um salto para 53%. Esse patamar de desaprovação ao Congresso é o segundo pior desde abril de 1993. Em setembro daquele ano, 56% anotaram ruim ou péssimo na pesquisa. Hoje, os que acham o trabalho dos parlamentares bom ou ótimo é de apenas 8%, enquanto o avaliam como regular. Apesar da ampla rejeição ao Congresso, o número ainda é melhor do que o do governo da presidente Dilma Rousseff, mesmo após a primeira melhora desde agosto de 2014. A reprovação à gestão da petista caiu de 71%, naquele mês, para 67%. O novo índice, ainda assim, é a segunda pior marca numérica desde a posse, em 2011. Além disso, a queda de quatro pontos na reprovação não significou um aumento proporcional na aprovação. Agora, 10% julgam o governo Dilma como bom ou ótimo, só dois pontos acima dos 8% apurados em agosto. Outros 22% consideram o governo regular (eram 20%).
O Tempo