Em convocação extraordinária às duas Casas do Congresso francês, o presidente François Hollande falou nesta segunda-feira (16) sobre as medidas a serem tomadas por seu governo em resposta aos ataques a Paris na última sexta-feira (13). Em discurso para mais de 900 parlamentares do país, ele voltou a classificar os atentados do Estado Islâmico como “atos de guerra” e afirmou que os bombardeios ao grupo continuarão durante as próximas semanas. “Não haverá nessa ação nenhum recuo e nenhuma trégua”, enfatizou.
Hollande ainda disse que, nos próximos dias, se reunirá com os presidentes Barack Obama, dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, da Rússia, para que haja união “na luta contra esses terroristas”. De acordo com ele, desde o início dos confrontos a França pregou integração internacional. “A Síria virou a maior fábrica de terroristas que o mundo já conheceu. E a comunidade internacional está dividida e incoerente”, criticou.
Ao falar sobre os autores dos ataques, Hollande atestou que o planejamento dos crimes aconteceu na Síria e sua organização na Bélgica, mas sua efetiva realização se deu com em território francês, com a ajuda de franceses. “É triste dizer isso, mas foram franceses que mataram na sexta outros franceses”, lamentou.
Na visão do presidente, a resposta aos atentados deve ser implacável. “Na noite de sexta-feira, quando os tiroteios deixaram claro o terrível balanço final, reuni o conselho de ministros, proclamei o estado de urgência e ordenei o controle nas fronteiras. Essa noite passada houve 104 missões de inteligência e ações de buscas”, disse.
A solução, de acordo com ele, também deve vir do Legislativo. A primeira medida seria a análise de um projeto de lei enviado pelo governo ao Congresso para prorrogar o estado de urgência da França por três meses. “Nós estamos em guerra, mas essas guerra, de um outro tipo, face a um adversário novo, pede um regime novo que permita o estado de crise”, argumentou.
Hollande também prometeu que haverá um significativo reforço policial no país, com a criação de cinco mil vagas suplementares no período de dois anos. Segundo o presidente, até 2019 não haverá nenhuma diminuição no efetivo de defesa da França. “Todas as decisões relativas ao orçamento serão tomadas dentro do quadro de finanças que está sendo definido nesse momento para 2016. Será um aumento de gastos, mas asseguro que o pacto de segurança tem que ganhar do pacto de estabilidade”, contrapôs o governante.
O presidente afirmou que os novos agentes deverão atuar na luta contra o terrorismo e na política de fronteiras, fazendo referência à atual crise de refugiados. “A Europa não pode fingir que as crises ao seu redor não a atingem. A questão dos refugiados está diretamente ligada a guerra na Síria e no Iraque e eles fogem desses mesmo terror”, disse Hollande, ressaltando que os países devem acolher aqueles que têm direito ao asilo e mandar de volta os que não têm”, diz o presidente da França.
Hollande ainda falou sobre o acesso de “juízes antiterror” a todos os meios e formas de investigação, além do uso das armas por agentes de segurança para legítima defesa e da possibilidade de dissolver organizações religiosas que propagam ódio e terror.
Estado Islâmico, um grupo ‘sem civilização’
Após afirmar que o país está em luto e homenagear às vítimas dos ataques da última sexta, Hollande se mostrou confiante de que a França irá se recuperar do episódio. “A nossa república não está ao alcance desses matadores”, disse.
Seu discurso adotou tom de indignação ao se perguntar qual foi o crime cometido pelas pessoas que foram mortas em Paris. “Estarem vivos?”, questionou. O presidente enfatizou que a França está em guerra, mas uma guerra com contornos diferentes. “Não estamos engajados numa guerra de civilizações, porque esses assassinos não representam nenhuma civilização”, enfatizou.
Ao fim de suas palavras, Hollande pregou a destruição do terrorismo. “Vamos erradicar o terrorismo, porque os franceses querem continuar a viver juntos sem temer nada. O terrorismo não vai destruir a República, porque é a República que vai destruí-lo. Viva a República, viva a França”, concluiu.
Agenda internacional
Hollande cancelou de última hora sua viagem para a Turquia, onde participaria da Cúpula do G20. Lá estão reunidos líderes das maiores potências globais, dentre eles Barack Obama, Vladimir Putin e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
O presidente ainda enfatizou que a próxima edição da conferência do clima, a COP21, está mantida. Na ocasião, mais de cem chefes de estado estarão na França para discutir temas afeitos ao meio ambiente.
Por Jornal do Brasil