A alagoana Jane Palmeira, 31, quase não consegue comer ou escovar os dentes sozinha. Assim como a catarinense Maria de Fátima, 49, que não respira pelo nariz; a paraense Kelly, 20, que mal ouve; e a gaúcha Gisele, 22, que está sem andar, todas foram vítimas de violência por parte de namorados e ex-maridos.
Os castigos extremos no Brasil, que remetem a ataques registrados na Índia, no Afeganistão e em países do Oriente Médio, são, de acordo com especialistas, tentativas simbólicas de punição à mulher que contrariou o homem. A história trágica da alagoana foi citada em reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira.
As agressões brutais ocorrem, em geral, quando a vítima decide se separar, salienta Marisa Sanematsu, uma das fundadoras do Instituto Patrícia Galvão, ONG de defesa da mulher no Brasil. “Não é um castigo específico ao que ela fez, mas ao que não fez: não se submeteu, não obedeceu. E o homem que domina não suporta ser contrariado”.
Jane, que era manicure, sonha em poder usar as mãos para voltar a trabalhar. “Não tenho raiva, mas quero ele bem longe de mim. Viver junto, nunca mais.” O suposto agressor José da Silva Filho, que sofre de esquizofrenia, está preso, porém ainda aguarda o julgamento.
Há um ano, para desgosto de Jane, ele decidiu parar de tomar os medicamentos controlados e voltou a beber. Em dezembro de 2014, inesperadamente, ele a atacou com um facão, cortando dedos e retalhando seu braço. Até hoje, ela vai ao hospital todos os dias cuidar dos curativos.
Em alguns casos, a defesa do criminoso alega um histórico de doença mental para justificar a violência, mas, conforme o médico Marcelo Feijó de Mello, da Associação Brasileira de Psiquiatria, há outros fatores envolvidos, como impulsividade, tipo de personalidade e as noções de Justiça e respeito pelo outro.
Redação com agências