O Papa Francisco foi aplaudido de pé nesta quinta-feira ao iniciar seu discurso no Congresso dos Estados Unidos, país que conta com 70 milhões de católicos. O pontíficie é o primeiro líder da Igreja Católica a fazer um pronunciamento na sede Legislativa americana em toda a história.
Falando por quase uma hora e fortemente aplaudido, o Pontífice pediu o fim da pena de morte em todo o mundo, condenou qualquer tipo de fundamentalismo, exigiu o acolhimento de imigrantes e condenou o sistema econômico atual baseado em exploração que leva à fome e à pobreza.
Além disso, Francisco pediu “coragem e audácia” aos países que têm diferenças históricas, em uma clara menção às relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba e Irã. Elogiando o que chamou de “esforços feitos nos últimos meses na tentativa de superar as históricas diferenças ligadas a dolorosos episódios do passado”, Francisco disse que “é seu dever construir pontes e ajudar todo homem e mulher a fazer isso”.
“Quando nações que estavam em desacordo retomam a via do diálogo, novas oportunidades se abrem a todos. Isto exigiu, e ainda exige, coragem e audácia”, afirmou Francisco, discursando em inglês, idioma que treinou durante as férias. No ano passado, o líder católico ajudou a mediar a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, após mais de meio século de ruptura.
Antes de visitar Washington, Francisco esteve na ilha caribenha, onde se reuniu com o presidente Raúl Castro e seu irmão Fidel, líder da Revolução Cubana. Havia uma grande expectativa sobre a possibilidade do Papa fazer um apelo contra o embargo econômico à ilha. No entanto, o tema não foi citado em seu discurso, que se limitou a exaltar a importância do diálogo e a da construção de pontes.
O secretário de Estado, John Kerry, estava na primeira fila do pronunciamento, assim como o vice-presidente norte-americano, Joe Biden, e os juízes da Suprema Corte. Uma multidão acompanhou o discurso do Pontífice em Washington, onde foram instalados telões gigantes para a transmissão ao vivo do evento. Francisco foi recebido por dezenas diante do Congresso e não hesitou em cumprimentar o público com apertos de mão, abraços e selfies.
Assim como fez ontem, na Casa Branca, o Papa usou um veículo popular e chegou à sede Legislativa norte-americana em um Fiat 500. Ao ser recepcionado pelo presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, o Pontífice agradeceu o convite pela visita e brincou com a cor da gravata do parlamentar. “Verde é a cor da esperança. Precisamos muito de esperança atualmente”, comentou.
O Congresso dos EUA conta com vários políticos declaradamente católicos, entre eles Biden. No então, são profundas as divisões ideológicas entre democratas e republicanos. O convite para discursar em Washington partiu de Boehner e da líder democrata Nancy Pelosi em março, no aniversário de dois anos de Pontificado de Francisco. Por meio de um comunicado conjunto, os congressistas ofereceram ao primeiro Papa do continente americano a possibilidade de pronunciar algumas palavras no plenário.
Crise imigratória na Europa
Francisco fez recomendações sobre a crise imigratória que atinge a Europa, com refugiados do norte da África e do Oriente Médio, e os Estados Unidos, com mexicanos viajando ao país há décadas em busca de melhores condições vida.
“Nós, povos desse continente, não devemos ter medo dos estrangeiros, porque muitos de nós, em algum momento, já fomos estrangeiros. Digo isso como filho de imigrantes, sabendo que vocês também descendem de imigrantes. Não devemos repetir os pecados e os erros do passado”, disse, citando Martin Luther King e a marcha de Selma como “parte da campanha para conquistar um sonho de plenos direitos civis e políticos”.
“Aquele sonho continua nos inspirando. Espero que a América continue sendo por muito tempo a terra dos sonhos. Sonhos que conduzem à ação, à participação, ao engajamento. Nos últimos anos, milhões de pessoas vieram a esta terra atrás dos próprios sonhos de construir um futuro de liberdade. O nosso mundo está enfrentando uma crise de refugiados de uma proporção que não se via desde a Segunda Guerra Mundial. Não devemos nos deixar assustar com os número, mas sim, enxergar estes números como pessoas, olhando o rostos delas e ouvindo suas histórias”, afirmou.