A School of Visual Arts (SVA) de Nova York é considerada com uma das principais referências mundiais em design, ilustração, cinema e efeitos visuais. A universidade foi responsável por formar grandes nomes do mundo das artes e do cinema, como o brasileiro Carlos Saldanha e tem personalinades como o ator Jared Leto e o designer Milton Glaser entre seus docentes. Mais do que isso, a universidade norte-americana desenvolveu um sistema de ensino baseado no estímulo constante de seus alunos com o mercado de trabalho e um time de professores renomados, todos eles atuantes em suas áreas.
E foi graças a esse modelo, somado à localização em pleno coração de Manhattan, que a instituição naturalmente se tornou um ponto de convergência entre mestres empreendedores e jovens talentos dispostos a desenvolver projetos – e negócios – próprios.
Para Adam Rogers, diretor internacional da SVA, o motivo que torna a universidade um celeiro de empreendedores é simples: “O empreendedorismo está desempenhando um papel cada vez mais importante no design contemporâneo. Se a arte é sua paixão, você vai encontrar uma maneira de ser bem sucedido, mesmo que isso signifique fazê-lo sozinho”, comenta.
Rogers está no Brasil para realizar duas palestras gratuitas, em São Paulo e Rio de Janeiro, e uma série de visitas às principais capitais do país, com a missão de ampliar o conhecimento dos brasileiros sobre as oportunidades de graduação na SVA. Em conversa exclusiva com o iG, ele comenta mais sobre a relação entre empreendedorismo e educação e como avalia o estímulo das universidades e do governo ao desenvolvimento de novos negócios.
DNA empreendedor
A própria história da criação da SVA é um exemplo de empreendedorismo. Após a Segunda Guerra Mundial, o então piloto das forças aéreas norte-americanas Silas H. Rhodes decidiu fundar a “The Cartoonist and Illustrators School”, em 1947. Aquela que se tornaria a SVA, era então uma escola voltada a veteranos de Guerra que trabalhavam durante o dia e precisavam por isso estudar à noite. “O objetivo deles era conquistar vagas de emprego nas áreas de propaganda e editorial. Naquela época a SVA tinha 35 alunos e dois cursos. Passados 68 anos, atualmente ela conta com 5 mil alunos, 1100 professores e 32 programas de graduação”, conta Rogers.
“Outro exemplo é a história do Milton Glaser, Presidente do Conselho da SVA, que personifica o espírito empreendedor da universidade. Entre outras atividades, ele foi co-fundador e presidente da Push Pin Studios, um dos criadores e diretor criativo da revista New York e, em 2011, recebeu do Presidente norte-americano Barack Obama a National Medal for the Arts (Medalha Nacional das Artes), principal premiação individual concedida a artistas e patronos das artes nos EUA”.
Educação empreendedora
Para reforçar esse legado, a SVA segue um modelo educacional que propõe que professores atuem como conselheiros dos alunos. Por serem profissionais de mercado e não puramente acadêmicos, eles oferecem aos estudantes uma perspectiva real da indústria. “Não existe uma ‘ilusão de realidade’ na SVA. Nova York, como outras grandes cidades, oferece inúmeras oportunidades de trabalho, mas mais do que isso, o corpo docente por si só promove a conexão desses jovens com o mercado e opções de estágios e empregos. Estudantes atentos e tomadores de riscos facilmente encontram um mentor para guiá-los neste caminho”, conta Rogers.
“Certamente é possível ensinar indivíduos como ser bons comunicadores, ouvintes, líderes de equipe etc. Contudo, atributos como ser visionário, apaixonado, enérgico e animado são natos. Para nossa sorte, artistas têm toneladas de paixão, energia e entusiasmo. O que falta a eles muitas vezes é o direcionamento e a persistência. É nisso que contribuímos para formação dos jovens artistas. A vida que eles escolheram pode ser muito desafiadora, mas se houver determinação, meio caminho já estará andado”.
Entre as histórias célebres de estudantes da SVA que souberam aproveitar os contatos que nasceram no campus da universidade, a do carioca Carlos Saldanha pode ser considerada uma das que melhor ilustra as palavras de Rogers. O cineasta conheceu Chris Wedge, fundador do estúdio Blue Sky, em sala de aula. Wedge era professor de mestrado da SVA e Saldanha um dos alunos da turma. Logo o brasileiro conquistou o mestre e foi convidado a trabalhar com ele. Assim nasceu a parceria que deu origem ao longa “A Era do Gelo 1”. Saldanha depois dirigiu sozinho duas continuações do filme e conseguiu tirar do papel o projeto da animação “Rio”, seu grande sonho.
Brasil, empreendedorismo e a universidade
“O Brasil é certamente a capital do empreendedorismo na América Latina. Eu tenho certeza que as atuais conjunturas das economias local e global estão trazendo fortes impactos para a criação de startups no país. Contudo, eu gostaria de ver o governo brasileiro remover alguns obstáculos à abertura de empresas para acelerar esse desenvolvimento”.
Neste sentido, Rogers reforça que a universidade pode e deve atuar como influenciadora para o desenvolvimento de capacidades que estimulem o senso empreendedor. “Eu acho que é responsabilidade de uma faculdade ser muito proativa na sua abordagem à preparação para o mercado de trabalho . Estudantes precisam aprender o lado comercial das disciplinas que cursam e ser treinados para o futuro profissional, seja para criar uma startup ou trabalhar para uma empresa”, explica.
“Como a letra música de Frank Sinatra “New York, New York” descreve, ‘se você conseguir fazer aqui, você consegue em qualquer lugar’ ”, diz Rogers em tom bem humorado, lembrando que as grandes cidades são o cenário perfeito para a inovação. “Naturalmente, o sucesso em qualquer atividade requer criatividade e parte do ser criativo é estar aberto a novas experiências e erros”, frisa. De acordo com ele, 19% dos alunos saem da graduação com negócios próprios estabelecidos. Além disso, 39% de todos os estudantes que passaram pela SVA são de fora dos EUA e uma parcela ampla retorna após o período de estudos e algumas experiências de traballho a seus países para então empreender.
Fonte: Portal IG – Mônica Chaves