Agente sai na rua e já é a resistência”. A frase dita pela cantora Tássia Reis, uma das mulheres ouvidas pela reportagem do Terra, resume de maneira precisa o que é ser negro no Brasil. Com 53% dos mais de 200 milhões de brasileiros, apesar de maioria, a população negra sofre diariamente com o olhar da sociedade como um todo, especialmente quando decide se inserir dentro de sua própria cultura.
Já alisou o cabelo?
Sim, já alisei. Quando criança eu alisava o cabelo, usava pasta, minha mãe alisava com pasta. Teve pente, chapinha, relaxamento, de tudo. Já usei maria chiquinha, rabo de cavalo, chanel, enfim. Acho que toda mulher gosta de experimentar, né? E a gente também têm sempre outras referências, e uma hora você pinta, enfim. Então eu alisei sim, já rolou de tudo.
Alisava por que?
Acho que já era quase que uma tradição. Ficava mais fácil de cuidar, e acho que esteticamente era o mais comum. A mãe passava muito creme no cabelo das crianças, e alisava porque conseguia fazer um corte. Acho que tinha uma facilidade para a própria mãe lidar com o cabelo. Não era comum ver cabelo natural. Não lembro de crianças da minha idade com cabelo natural crespo, sem nenhuma química, como hoje vemos muito. E é muito bacana que hoje exista uma liberdade e um respeito por sabermos que existe essa diversidade por conta de mistura de raças.
Parou de alisar quando?
Olha, na verdade, eu usei prancha por muito tempo. Aí depois comecei a trançar porque achava style e vi um filme com a Angela Bassett que ela tinha umas tranças grossas, e fiquei apaixonada por elas. Aí fiquei anos com a trança, só que gosto muito de água. Então quando tirei férias e fui pra Bahia, eu desencanei e deixei meu cabelo como ele tivesse que ser. E aí rolou, porque lembro que na época fazia Ídolos , e aí voltei de férias e já ia trançar o cabelo de novo. Mas fui me adaptando porque as pessoas começaram a elogiar tanto que eu comecei a me ver de uma outra forma no espelho também.
Cabelo como afirmação?
É engraçado. Eu nunca pensei no meu cabelo nesse sentido de afirmação , porque eu nasci sabendo que era negra, que meu cabelo era crespo e que tinha todos os direitos que qualquer outra pessoa [tem]. Então eu nunca levantei uma bandeira porque isso pra mim sempre foi algo natural.