KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
A perda do grau de investimento na avaliação da Standard & Poor’s deverá ter, pelo menos, dois efeitos políticos importantes.
O primeiro é transformar Aloizio Mercadante no principal alvo do PMDB e de setores do PT, que vão pressionar a presidente Dilma Rousseff a tirá-lo da Casa Civil na reforma ministerial e administrativa.
O segundo: pressionar Dilma a encerrar a dubiedade na equipe econômica, reforçando a posição do ministro Joaquim Levy em detrimento da visão de Mercadante (Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento).
Peemedebistas e petistas apontam Mercadante como o responsável pela tentativa de tirar poder do vice-presidente, Michel Temer, e como o principal adversário de Levy, influenciando a presidente a fraquejar na defesa do ministro da Fazenda.
Inúmeras vezes, o ex-presidente Lula aconselhou Dilma a substituir Mercadante por Jaques Wagner, hoje ministro da Defesa. O argumento de Lula é que Mercadante e Dilma são dois economistas que pensam parecido. Seria necessário na Casa Civil alguém distinto da presidente, como Dilma era diferente de Lula. A presidente tem audiência marcada hoje com Mercadante, que virou o ministro mais próximo dela. Os dois estabeleceram uma forte relação de confiança.
Mas o cenário político e econômico mudou. O conselho de Lula ganhará reforço político do PMDB e de setores do PT numa hora de maior enfraquecimento do governo.
Em julho, quando Dilma reduziu a meta de superavit primário de 2015 para 0,15%, ela derrotou Levy no debate interno do governo e deu a vitória a Mercadante e Barbosa.
Em agosto, a presidente obteve um pequeno fôlego após manifestações menores do que em março, apoio de empresários de peso e da denúncia ao Supremo Tribunal Federal contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas Dilma e Mercadante jogaram para tentar tirar poder de Temer. O envio do orçamento de 2016 com deficit de R$ 30 bilhões foi outra derrota de Levy e vitória de Mercadante e Barbosa.
É incrível que o governo tenha sido surpreendido pela perda do grau de investimento e que Barbosa tenha admitido isso ontem. Levy alertou o governo diversas vezes. Deu um aviso especial na semana passada. Mas Dilma acreditou que tinha tempo ainda para manter o grau de investimento, o que revela o tamanho da cegueira política e econômica do atual governo.
É fato que integrantes do mercado financeiro também avaliavam que o rebaixamento não aconteceria agora, mas Levy insistia em mostrar a Dilma o risco de isso acontecer. Isso é outro fato.
Agora, o único caminho que restou à presidente é misturar corte de gastos com aumento de tributos. Não será fácil, mas já deveria ter tentado fazer isso com mais competência, sem açodamento.
O Congresso também terá de assumir sua cota de responsabilidade, porque andou votando projetos da chamada “pauta-bomba” e tem a sua parcela de culpa pela deterioração da política fiscal do país. Mas a responsabilidade maior é do governo Dilma, cujos erros econômicos levaram o país à crise em que se encontra hoje. A oposição também precisa ajudar, não tocando fogo no país que pode vir a administrar.
É hora de responsabilidade de todo o meio político, mas são urgentes atos concretos da presidente para encerrar a dubiedade na equipe econômica e realizar uma reforma ministerial e administrativa a fim de tentar um novo recomeço.
O governo subiu no telhado. Se Dilma continuar errando tanto, corre o risco de cair por um impeachment baseado em razões políticas, ainda que falte um motivo jurídico. A realidade é essa.