O meia-atacante Luan teve um dia diferente na última quarta. Voltou a Maceió depois de 13 anos e jogou no principal estádio de Alagoas. Quando criança, em São Miguel dos Campos, pensava em fazer gols no Rei Pelé, perto da família, mas a carreira tomou outro rumo.
Ele deixou Alagoas muito cedo, com 16 anos, e não jogou nos grandes times da capital. Antes de chegar ao Atlético-MG, passou por Quirinópolis, interior de Goiás, chamou a atenção e seguiu para o Atlético de Sorocaba.
Ele se destacou na Ponte Preta e virou ídolo do Atlético-MG. Ganhou até o apelido carinhoso de Menino Maluquinho em Belo Horizonte. Essa história explica a emoção de Luan depois do jogo contra o CSA. Ele fez um gol e dedicou à família.
– Agradecer a Deus. Saí de uma cidadezinha aqui, São Miguel dos Campos, não tive oportunidade de jogar em nenhum time aqui, por falta de estrutura, morava no interior do Coité e pra sair de lá haja força de vontade, maturidade, cabeça… Muitos me criticavam, diziam que eu não era nada. Saí de Alagoas, criei um nome aqui, uma identidade com o Atlético-MG. Pra mim é emocionante voltar à minha terra depois de 13 anos, fazer um gol. Não foi fácil.
Luan nasceu em Maceió e disse que sempre quis jogar no Rei Pelé.
– Algumas pessoas que diziam ser amigas, criticavam muito e onde eu cheguei hoje fui fruto do meu trabalho. Quero mandar um abraço para o pessoal de São Miguel, minha família em Maceió, na Praia do Francês… Nada melhor do que vir aqui e fazer um gol. Tive o sonho de jogar aqui desde pequeno, não consegui. [Agora] Voltar realizado, consolidado, bem de vida, [pelo] que o Atlético me proporcionou.
Luan queria mais no jogo em Maceió, queria vencer em casa, até como um desafio pessoal.
– Queria a vitória, por isso saí chateado, dando tapa no chão, na placa. A vitória não veio, mas o ponto é importante. Mas emocionado de voltar na terrinha e fazer um gol no Rei Pelé, um estádio tão famoso. Na minha cidade tinha o Miguelense, em 1999, acabou, não tinha estrutura nenhuma, e tô feliz pelo gol. Agora é melhorar a cada dia. Temos o Santos em casa, depois o São Paulo no Morumbi. Agradecer a Deus: fiz o gol na minha terra.
A origem de Luan
Luan foi criado num povoado chamado Coité, município de São Miguel dos Campos, distante cerca de 55 quilômetros de Maceió. O local fica situado na zona rural da cidade, e a população sobrevive, praticamente, da cultura da cana de açúcar, principal fonte de renda do município.
Boa parte das casas do Coité é construída de taipa, um modelo bem rústico em que se utiliza barro para fechar as paredes. A última vez que Luan esteve em São Miguel foi em 2017, quando foi ao sepultamento da tia Cristina.
Luan sempre teve o desejo de ser um jogador de futebol. A família conta que ele saía de casa escondido e era facilmente encontrado nos campinhos do Coité. Às segundas-feiras, ajudava a avó Ranuzia numa feira de São Miguel. O tio Irairan e a avó tinham uma banca no mercado público da cidade, e Luan ajudava no trabalho para garantir uma renda extra. Chegou até a transportar compras, com um carrinho de mão, para ajudar no sustento da família.
Luan, ao lado de duas primas quando morava no Coité — Foto: Denison Roma/GloboEsporte
Primos
Para se profissionalizar, Luan teve um grande incentivo dos primos. Samir e Gessé foram os responsáveis por levar o garoto para o interior de Goiás. Eles moravam lá e conheciam o potencial de Luan desde a época em que todos viviam em São Miguel
Por pouco, Luan não desistiu da viagem. Com a passagem já comprada, o menino chegou a dizer para a família que não iria mais. Mas o apoio da mãe, Fátima Gedeão, foi fundamental para ele sair de Alagoas e ter forças para buscar os objetivos no futebol. O jogador não voltou a São Miguel, enfrentou a barra e seguiu a carreira até chegar no Atlético-MG. Hoje ele tem 29 anos.
Calendário na casa da tia de Luan — Foto: Denison Roma/GloboEsporte
fonte: GloboEsporte