As 35 minas de exploração de sal-gema (matéria-prima para produção do soda e cloro) da Braskem estão sob investigação técnica de 60 especialistas da Agência Nacional de Mineração (ANM), do Serviço Brasileiro de Geologia (SGB) e da Comissão Nacional de Defesa Civil. Além das minas, os poços da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) que atendem 5% da população de Maceió também estão sob análise técnica dos órgãos federais ligados ao Ministério das Minas e Energia.
Sobre os tremores e problemas geológicos que causam danos graves ao bairro do Pinheiro e fizeram mais de 500 famílias abandonarem seus imóveis com medo de problemas mais graves, o diretor-geral substituto da ANM, Tarço Mendonça, disse que os técnicos trabalham com base em quatro hipóteses: exploração nas minas de sal-gema da Braskem, esvaziamento do aquífero da cidade por exploração desordenada em sistema de poços, vazamento na rede de saneamento e abastecimento de água no bairro; e o somatório de causas geológicas que teriam começado na década de 70 com a ocupação urbana daquele bairro.
Fontes da Braskem confirmaram que a empresa tem 35 minas de exploração naquela área da lagoa Mundaú. Cinco minas que ficavam próximo ao Pinheiro estão desativadas. Na verdade, 32 minas estão lacradas e apenas três operam no bairro do Mutange.
A Casal tem uma bateria de 180 poços em 77 cidades que sofrem com o precário abastecimento de água; 80 deles estariam localizados na Grande Maceió. Cerca de 15 empresas particulares também conseguiram licença para explorar poços na cidade. A exploração ocorre de forma descontrolada e lesam a própria Casal, conforme revelou o presidente da autarquia, Clécio Falcão, numa entrevista concedida à Gazeta de Alagoas na semana passada.
Tudo isso faz aumentar as dúvidas na população e das autoridades federais. Os moradores também estão com medo. Na madrugada e manhã desta sexta-feira (18), algumas pessoas disseram ter percebido “anormalidades” (pequenos “afundamento”) no chão dos imóveis e nas vias do bairro. Alguns decidiram não esperar pela ajuda (o aluguel social prometido pela Comissão Municipal de Defesa Civil) e se mudaram em baixo da chuva forte. O clima no bairro é de medo, incerteza e expectativa por ajuda. Os proprietários dos imóveis querem saber quem vai arcar com os prejuízos se a área for condenada.
A empresária Socorro Buarque tenta há um ano manter sua casa em pé com obras paliativas de “amarração” da estrutura. O imóvel fica na rua jornalista Augusto Vaz Filho e está com o chão afundando e rachaduras por todos os lados. Ela e o marido Rodolfo Farias não querem sair, mas mandaram o filho para casa de parentes. O jornalista Herivaldo Ataíde só não se mudou ainda porque não tem como pagar aluguel. Todos esperam a conclusão dos estudos técnicos para cobrar indenizações dos prejuízos.
Braskem
Em nota enviada à Gazeta, a Braskem informou que “realiza atividades de mineração em Alagoas desde 1975. Estas atividades são precedidas de minuciosos exames geológicos e geomecânicos das áreas exploradas. Todo acompanhamento do processo de extração é realizado por engenheiros de minas e técnicos da empresa, utilizando a mais moderna tecnologia do setor”.
A empresa nega envolvimento com os problemas geológicos no bairro do Pinheiro. “Ao longo do período de extração, a Braskem monitora e realiza estudos de acompanhamento com empresas e consultores especializados e de renome internacional, seguindo todas as normas técnicas e legais nacionais e internacionais referentes a este tipo de operação”.
Ainda segundo a empresa, “o permanente trabalho de monitoramento ao longo dos anos permite afirmar, até o momento, que não há qualquer relação entre as atividades de mineração e as ocorrências observadas no bairro do Pinheiro”.
A Braskem afirma que tem prestado todos os esclarecimentos aos órgãos de fiscalização e controle e apoia com estudos e ações adicionais a investigação das causas do ocorrido. “A empresa tem estabelecido canais de comunicação com a comunidade, com a imprensa e com outras entidades da sociedade civil organizada para participar da solução dos problemas”.
Estudos coordenados pelo engenheiro civil Abel Galindo Marques, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), avaliaram, no ano passado, a situação geológica do bairro do Pinheiro. O relatório aponta possíveis causas das fissuras que estão atingido áreas públicas e imóveis da região (confira aqui). (GazetaWeb)