O caminho de Renan Calheiros (MDB) para tentar a reeleição ao Senado, em outubro, deve ser o mais difícil da carreira do homem forte da política alagoana. Em meio a fins de alianças e silêncio sobre as negociações, o ex-presidente do Senado (em três ocasiões) deve enfrentar a concorrência de quatro nomes relevantes na corrida –um feito inédito. Neste ano, cada estado elege duas cadeiras no Senado.
A cientista política Luciana Santana, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), vê um cenário duro: “Pela primeira vez, ele está tendo de enfrentar candidatos competitivos que podem, sim, tirá-lo da disputa por uma dessas duas vagas”.
Já Ranulfo Paranhos, também professor da Ufal, afirma que “o maior concorrente do senador é o próprio nome Calheiros, que é muito ruim nacionalmente e tem rejeição aqui”.
Santana também destaca o fator antipatia do eleitor. “Conta muito nessa disputa a rejeição que esses candidatos têm, e ela vai indicar a capacidade de atração do eleitor para uma das vagas. Renan tem uma base muito consistente, mas que não é capaz sozinha de fazer com que ele seja reeleito. Existe um conjunto da população que tem rejeição altíssima a ele. O que ele vai ter de fazer para reverter esse quadro? Tentar dialogar com esse público.”
“Além disso, o grande oponente nesta eleição é a Operação Lava Jato. Se um dos processos em que ele é acusado tiver um trâmite mais veloz, isso pode impactar na campanha. Ou mesmo um áudio vazado ou um esquema que seja denunciado na televisão”, completa Paranhos.
Para ajudar na empreitada, Renan conta com apoio do PT no estado e, mesmo tendo votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, conseguiu se reaproximar do ex-presidente Lula e o recebeu durante a passagem por Alagoas da caravana do petista, em agosto do ano passado.
Nascido em setembro de 1955, Renan Calheiros é senador por Alagoas desde 1995. Pai do governador do estado, Renan Filho (MDB), vê uma disputa tranquila para seu herdeiro no Executivo, sem adversário de relevância.
Para ele, a bagagem é mais pesada. Não apenas pela concorrências, mas por responder no STF (Supremo Tribunal Federal) a 14 inquéritos ligados a investigações das Operações Lava Jato e Zelotes. Também virou é réu em uma ação penal em que é acusado de desvio de verbas de sua cota parlamentar para pagar pensão alimentícia de uma filha fora do casamento.
Renan afirma que é inocente e que vai provar que a denúncia “tem falhas”. Sobre as acusações da Lava Jato e Zelotes, ele sempre repete não ser culpado e cita o arquivamento de três inquéritos como prova de inocência. “Irei provar e derrubar inquérito, um por um”, diz.
Renan foi eleito com folga todas as eleições que disputou para o Senado – em 1994 e 2000, ao lado do tucano Teotonio Vilela Filho. Na primeira disputa foi o segundo colocado, mas mesmo assim teve quase o dobro de votos do terceiro , Antônio Holanda Costa (então PSC). Em 2000, foi o primeiro colocado, com sete vezes mais votos do que o candidato que ficou em terceiro lugar, Eduardo Bonfim (então PCdoB).
Em 2010, voltou a ser o segundo mais votado em Alagoas, com 840 mil votos, mesmo assim mais que o dobro de Heloísa Helena (então no PSOL), terceira colocada e que teve 407 mil votos. Benedito de Lira (PP) foi o mais votado à época, com 900 mil votos.
Por enquanto, vislumbra-se uma competição entre Renan e outros quatro concorrentes: Maurício Quintella e Marx Beltrão, ex-ministros de Michel Temer e atualmente deputados federais, além do senador Benedito de Lira (PP) e do deputado estadual mais votado em 2014, Rodrigo Cunha (PSDB).
O emedebista articula para ter ao seu lado Maurício Quintella (PR), ex-ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil.